domingo, 19 de maio de 2013

A TURQUIA PARA ALÉM DE "SALVE JORGE"


Pode ser que muita gente discorde e até mesmo vire a cara para o assunto, mas novela brasileira é um produto nacional de grande apelo popular, de qualidade técnica reconhecida e, muitas vezes, de altíssima criatividade. Não podemos negar que se estamos numa roda de amigos, mesmo sendo ela toda masculina, o tema novela volta e meia aparece, seja falando de algum personagem, de alguma terra exótica ou de certas invenções ou maluquices que os autores e produtores resolvem encampar para, literalmente, verem no que vai dar. Exemplo notório dessas alucinações são as sandices imaginativas perpetradas em uma novela da Record que atendia pelo singelo nome de “Os Mutantes: Caminhos do Coração”, exibida em 2008, cujo enredo tresloucado formado por replicantes meliantes mutantes vivos-mortos milhões de brasileiros e eu jamais entendemos. 

Haghia Sofia, Istambul-Por Sávio Siqueira


A novela Salve Jorge, de Glória Perez, que acaba de acabar, trouxe à baila um assunto bastante atual, sério e muitas vezes invisibilizado, o tráfico internacional de pessoas, além de, em termos de cenários e possíveis enlaces e viagens (inter)culturais, a Turquia, esse país, para muitos de nós desconhecido, e, não raramente, e de forma errônea, inclusive na geografia, singularizado como parte daquilo que nos acostumamos a chamar de Médio Oriente, apenas porque a maioria de sua população é muçulmana. Foi mais uma novela desta autora orientada por uma fórmula antiga que, mesmo encarnando estereótipos desgastados, desafiando os obstáculos do tempo e da distância (lembremos de América – Miami era quase da cozinha, O Clone – o Marrocos era ali do lado, e Caminho das Índias – Mumbai nunca esteve tão perto, era um pulo!), chamou a atenção por trazer como pano de fundo aspectos culturais instigantes ou situações polêmicas como a imigração ilegal de brasileiros para os EUA, a posição inferiorizada da mulher nas sociedades islâmicas e, no caso da Índia, o difícil entendimento por parte da sociedade ocidental da estrutura de castas, onde, até hoje, os dalits são vistos como intocáveis, a escória da base da pirâmide.

Salve Jorge, com sua ponte aérea Morro do Alemão/Rio de Janeiro-Istambul/Capadócia, dentre tantas doideiras, mostrou que esse pessoal de novela, por levar os ditames da atual globalização a extremos, deveria realmente começar a ter seus textos classificados como ultrarrealismo fantástico, talvez. Por conta do dinamismo e da rapidez da imagética, os nossos noveleiros têm exagerado. E Glória Perez, neste pormenor, é pioneira. Nesta novela, além de conceber dezenas de personagens absolutamente inúteis e totalmente ‘sem noção’, a autora se suplantou em muitos aspectos no tocante a que Turquia apresentar aos seus telespectadores. Excetuando as lindas e fantásticas imagens, todas, garanto, sem qualquer possibilidade de maquiagem, a novela revelou uma Turquia parcial e absolutamente caricata que, para muita gente, nada mais é que um atrativo para um bando de ignorantes classe média resolverem rumar para lá apenas para conhecer o cenário por onde Morena, Theo e a gangue de malfeitores formado por Lívia, Russo e Wanda, além do guia turístico Ziah, com suas mulheres desocupadas, perambularam. Bom para o turismo da Turquia, sem sombra de dúvidas, uma das indústrias mais bem organizadas daquela terra de tanta história e tantos mistérios.  

Mas vamos às pequenas curiosidades. Para começar, a ignorância sobre este país reinava inclusive entre aqueles atores que lá estiveram para as gravações. Lembro que na noite de lançamento da novela, o pessoal do CQC, do lado de fora do evento, perguntava a vários dos artistas qual era a capital da Turquia e mais de um respondeu Istambul. Sequer se deram ao trabalho de ao menos descobrir que a atual capital da velha Constantinopla é Ankara. A Turquia de Salve Jorge, pasmemos, fala português carioca, com direito a umas incursões ridículas do idioma local e as repetitivas fórmulas comunicativas como Merhaba (Olá!) e Güle Güle (Tcahu!). Isso sem falar nos mais fartos e grotescos exemplos de inverossimilhança no tocante a vários aspectos.

A título de exemplo, tomemos as distâncias entre o Brasil e Turquia, além das viagens internas para a Capadócia. Para se chegar a Istambul sem escalas, há um voo direto que parte de São Paulo apenas com duração de 12 horas. A passagem ida e volta não sai por menos de 1,800 dólares. A delegada Helô, sua filha patricinha, seu genro inútil e seu ex-marido Stênio, Lívia, Wanda, Russo, Mustafá, Berna, Aisha e por aí vai foram e voltaram pelos menos umas dez vezes para lá e para cá e em tempo recorde, desconsiderando, nada mais nada menos, que um fuso horário de 6 ou 7 horas em relação ao Brasil, dependendo do período em que se viaja para o país que marca o fim da Europa e o início da Ásia ou vice-versa. Isso sem falar nas várias vezes em que a trupe bandida de Lívia rebocou de jatinho do Rio de Janeiro para a Turquia uma morena amarrada, sem direito a sequer ir ao banheiro ou a sua filhinha que foi, no último capítulo, parar nas mãos de uns camponeses turcos nas montanhas da Capadócia. Isso é que é globalização: do Morro do Alemão para um morro turco. Viva a tresloucada imaginação de Glória Perez!

Para quem está em Istambul, a maneira mais fácil e rápida de se chegar à Capadócia, que é uma região da Turquia e não uma cidade como a novela deixa transparecer, é voar para locais como Antália ou Kayseri, e de lá seguir para os vilarejos de carro, táxi ou ônibus turístico. Só que cada voo para esses pontos internos da Turquia dura, em média, uma hora, ou seja, uma viagem de Salvador para Recife de avião. Na alucinação de Glória Perez, Ziah e seus amigos trabalhavam no Grand Bazar em Istambul até o final do dia e depois seguiam tranquilamente de carro para a Capadócia, chegando ainda de dia, como se fosse uma viagem de alguns minutos. Bobagem ficar remoendo este preciosismo, mas seria interessante que esses autores, mesmo encravados nas suas doideiras ficcionais, não abusassem do distanciamento do real que, no caso de Perez, ao tratar de temas sociais, tenta apresentar seu texto como um retrato fiel do mundo em que vivemos. Fideliza algumas coisas e fantasia outras tantas. Esta é a fórmula da autora. 

A Mesquita Yeni, Istambul-Por Sávio Siqueira

Salve Jorge, com sua trama abilolada, ainda que de forma artificial, mostrou um alemão próximo do real, mas esqueceu de explorar as riquezas histórico-culturais da Turquia, hoje um país que, embora esteja fora da União Europeia, cresceu nos últimos anos a uma média de 7%. Seus personagens não se interessaram por História, não se viu um diálogo sobre a velha Constantinopla, entrou-se em locais como a Hagia Sophia, um santuário emblemático encravado no coração de Istambul, sem sequer falar um pouco da sua importância para os assuntos religiosos daquele povo. Tudo, como sempre, ficou no nível do superficial, como se fazendo propaganda para os brasileiros classe média que viram ali um desvio de rota de Miami para um novo polo de sacolagem. Nada mais que isso, pois, infelizmente, turismo cultural nunca foi o nosso forte. 

Em suma, novela é novela e existe para nos divertir. A inegável qualidade estética de nossas produções, volta e meia, descamba para situações inusitadas, tendo Salve Jorge, ultimamente, neste aspecto, se superado. Personagens em excesso, um núcleo turco em que praticamente não se fazia nada, além de dançar, sorrir e comer, culminando com um esdrúxulo triângulo amoroso entre o guia Ziah, uma carioca desocupada que chega a aprender a dançar como uma turca e uma turca que fala português como qualquer um de nós que, a duras penas, percebeu que dor de corno dói do mesmo jeito em qualquer lugar do planeta. Glória Perez, no seu merecido descanso, deverá colher os louros de suas aventuras imaginativas e, com certeza, pensará que contribuiu para levar mais e mais brasileiros a um país misterioso como a Turquia. Bom para eles. Mas numa avaliação mais acurada, um dia, a autora saberá que, mais uma vez, subiu ao panteão das noveleiras que, com suas histórias tresloucadas, contribuíram para a consolidação da ignorância geral e irrestrita dos nossos viajantes globais oriundos destas terras tupiniquins.

Por conta disso, não custa lembrar, podem ter certeza, que nos próximos anos, só vai dar brasileiro doido para andar de balão na Capadócia, esperando sair correndo pelas montanhas da Turquia e se deparar com um monte de dervishes rodopiando em pleno pôr do sol. Isso sem falar na potencialização de uma doença brasileira global que agora mudará de cor e valor – compras – muitas vezes de coisas inúteis e pouco práticas. Sacolas vão voar. Salve Jorge acabou. Sobrevivemos às suas gafes e seringadas. Espero que a Turquia sobreviva a Salve Jorge, pois com a ida de tanto brasileiro para lá, ao invés de Atatürk, será Morena a figura mais celebrada de Istambul. Quando, um dia, e não deve demorar, Salve Jorge for exibida na Turquia, espero que os turcos não riam de nós. Afinal, pelas mãos mágicas de Glória Perez, as distâncias entre Brasil e Turquia, simplesmente, deixaram de existir. Milagre, milagre, milagre!  

Sávio Siqueira
19 de maio de 2013     

sábado, 18 de maio de 2013

WELCOME TO 'FAROFALAND'


Já estamos no Ano Novo. Sol a pino nessas bandas de cá do Atlântico sul. Como disse Drummond, a pessoa que teve a brilhante ideia de fatiar o tempo era mesmo um gênio. Parece uma coisa banal, porém, esse negócio de passagem do ano, simbolicamente, mexe com todos nós de maneira irrefutável. Não há como negar que nessas primeiras horas de um novo ano, somos todos afetados por uma sensação estranha, seja ela boa ou ruim, mas que não passa incólume por nenhum ser humano. Estamos, sim, virando mais uma página do tempo e, claro, para aqueles que acreditam, é hora de fazer uma pequena reflexão sobre a vida para então tocar... a vida. A mesma vida, sem promessas e sem barulho. 


Para uns afortunados como nós, nativos dos trópicos, que moramos bem perto da praia, fechar um ano à beira-mar tem um toque sempre especial. Na verdade, há toda uma mística que arrebata até os menos afeitos a questões religiosas. Para começar, rendendo-se à fé marcante, tão típica do nosso povo, muita gente se veste de branco para romper o ano limpa, virgem (uau!), totalmente de alma lavada. Há aqueles (e aquelas) mais calientes que preferem o vermelho, cor da vida, sangue, fervor latino, e que se jogam ano novo adentro com todo o otimismo que o momento, de alguma maneira, referenda. Mas tem gente que prefere azul turquesa, verde limão, rosa bebê. Seja lá qual for a cor, o importante é entrar o novo ano com a cara renovada e, com licença do clichê, sem medo de ser feliz.

O dia amanhece e a praia é um convite ao relaxamento. É domingo. Os presentes ofertados a Iemanjá na noite anterior, flores principalmente, ainda enfeitam e perfumam o ar quente que carrega os grãos de areia para longe, transformando, dia após dia, a minha linda paisagem, onde rio e mar não cansam de se lamber. Não é praia de pits nem de pats, para quem não sabe, pitbulls e patricinhas; ao contrário, é praia de gente simples, de carne osso, de cabelos ouriçados, como se dizia antigamente. Praia de gente da pele curtida, dos calções furados, das sandálias Katina. Praia sem barracas com ar-condicionado, com tudo ‘excluso’, praia ‘povão’, um e noventa e nove, zero oitocentos total. Welcome to Farofaland!  

Entre rio e mar-Barra do Jacuípe, Bahia, Brasil-Por Sávio

A turma dessa vez está muito mais organizada. Os ônibus estão distantes. Nem sinal daqueles bólidos carregados de passageiros que, feito colmeias, nos mandam centenas de pessoas alemejando apenas um domingão de lazer. Como não têm muito dinheiro para torrar, mesmo nessas bandas, onde as coisas são mais acessíveis, eles capricham na estrutura ‘farofal’. Uma tenda branca daquelas de casamento chique abriga, pelo menos, umas vinte e cinco pessoas. É hora do rango. A meninada, claro, embebida em bronzeador de saquinho, se diverte entre água e areia, esculpindo, de quando em vez, legítimos e hilariantes ‘bifes à milanesa’. Vejo aquilo e imagino a cara daquelas mulheres plastificadas, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar, com enormes óculos Versace totalmente fashion, parecendo personagem de mangá japonês, diante de bifes à milanesa da Farofaland bem ao lado. Rio solitariamente e ninguém entende o que está se passando comigo. Ressaca de água mineral, talvez. Apenas rio. E que venham os bifes!

Debaixo da enorme tenda, no mínimo, umas cinco caixas de isopor lotadas de comidinhas gordurosas e que servem para matar a fome, dando sustança até o final do dia, quem sabe, quando chegar a hora de voltar para o ônibus, já à noitinha. O cheiro de frango assado invade o ambiente e desfila atraentemente por todo o espaço que, democraticamente, ocupamos. Cerveja, sim, Nova Schin da boa, geladíssima e saboreada a cada golada. Bebe homem, mulher, adolescente. Só não bebe criança. Uma negra bem servida de quilos, de saião rodado e sutiãs gigantes que mais parecem dois pára-quedas, dança ao som vibrante do arrocha de Nara Costa: “Ah, faz do jeitinho que Nara gosta...”. E segue no seu ritmo lento e alegre, sensualmente se esfregando no rapaz esguio que, perplexo, à sua frente, parece não saber como se juntar à avantajada dama naquela contradança esquisita e fugaz. O fim da página musical, em pleno sol escaldante do verão de janeiro, salva-lhe o pescoço.

Em Farofaland alegria não falta. Quanto mais farofa, mais energia. Sobe um cheiro de feijoada. Uma fumacinha vinda do fundo da tenda anuncia que um churrasquinho está a caminho. Cardápio variado. Já não se fazem mais farofeiros como antigamente! É isso. Keep walking. Será possível? Uma garrafa de Red Label reluz ao meu lado e começa a plainar de mão em mão. Parece uísque mesmo. O bico não fora retirado para o típico aproveitamento das garrafas com outros líquidos menos nobres. Não é licor de jenipapo. Nem cachaça. A cor denunciaria. Mas que (pré)conceito o meu! Farofaland tem toques de Oscar Freire. Não tem tapete vermelho, mas está virando a nossa própria Quinta Avenida. Isso é que é globalização!É uísque mesmo. Um legítimo Red Label, com direito a tapete vermelho imaginário nas areias desta Bahia mestiça. O andróide da propaganda sequer imaginaria que em Farofaland as pessoas também querem continuar a andar. E lá vão elas. Mas aí me lembro que o Keep Walking é do Johnnie Walker. Ah, deixa pra lá...

Foz do Rio Jacuípe, Camaçari, Bahia-Por Sávio Siqueira
    
E tudo é muito interessante. Um ritual popular. E ao invés de ficarmos destilando preconceitos, é muito interessante ver essas pessoas, tão brasileiras quanto nós, se sociabilizarem com enorme dignidade na busca por seu lazer ao sol. Literalmente, o sol tem mesmo que ser de todos. E lá para o meio-dia ou uma hora da tarde, de barriga mais que cheia, nossos amigos, belos filhos da amálgama tupiniquim, correm da tenda e se aninham às sombras dos coqueiros para, com todo luxo, tirarem uma pestana à beira-mar. A primeira sonequinha do novo ano. Saem em disparada, jogam areia em vizinhos como eu, cospem alegria na toalha de onça da madame de óculos Versace. Observo que ela, com semblante indignado, limpa a bunda roliça, estica o biquíni, desliza uma perna sobre a outra e volta ao seu Código Da Vinci. Melhor seria se estivesse entregue ao glamour plastificado da revista CARAS. Mas que nada, o verdadeiro ‘buxixo’ estava acontecendo na barraca de Farofaland logo acima. Desfile de moda de gente de bem com a vida. E CARAS perdendo esse cenário tão brasileiro...

Enfim, ano novo, vida igual, dívidas persistentes e cada vez mais aparentes. Nada como um ano após o outro (ôpa, clichê!). Um ou dois dias de ‘relax’ apenas para lembrar que a nossa vida, seja ela o que for, é mesmo uma grande farofada ao vento. Vento que controla o nosso destino, e no seu leva e traz, nos mostra que o mundo está ficando cada vez mais igual, principalmente nas classes mais abastadas, onde pode-se ser a mesma pessoa siliconada na zona sul do Rio de Janeiro, por entre os luminosos de Tóquio, nos círculos de Nova Déli, nas ruas de Manhattan. Estamos ficando tão iguais. Isso não é bom. Melhor ser farofa!

Sendo assim, que o ano novo nos traga, pelo menos, o diferente. Que resgate em cada um de nós os farofeiros que um dia fomos, sem precisarmos disso nos envergonhar. Que o ano novo renove em nossos corações a vontade de sermos simples, singelos e frágeis tal qual a própria linha da vida. Muito simples para, com muita humildade, ainda o dom dos nobres, podermos nos arrumar com toda a família, carregar uma tenda branca para a praia, encher o isopor de cerveja e comida e, depois de nos refestelarmos, brincarmos de bife à milanesa, e, exaustos, nos entregarmos à sombra generosa de um majestoso coqueiro. Seria o máximo, não? Quantos de nós deixamos de fazer essas coisas? Quantos de nós viramos pessoas de plástico? O ano apenas começou. Dá tempo de reverter. Sempre dará. Welcome to Farofaland. A vida por lá, pulsa, não imita, não simula. A vida lá é vida. Welcome to Farofaland. E feliz ano novo... de verdade. Sem silicone, falsos peitos, falsos sorrisos. Um ano novo simples e verdadeiro como o mundo das gentes de Farofaland. Simples. Só isso.   
  
Sávio Siqueira
Barra do Jacuípe, Bahia, 01 de janeiro de 2007


sábado, 11 de maio de 2013

ÉFESO E MEU ENCONTRO COM MARIA


A entrada de Éfeso (Efes)-Turquia

Mal fomos dormir, já estamos acordados no saguão do hotel. São cinco da manhã de uma terça-feira que promete ser bem quente e ensolarada. Cinco de nós estamos escalados para uma excursão a Éfeso, a segunda maior cidade do império romano por volta do século I a.C. Interessante notar que mesmo estando em uma megalópole como esta, Istambul ainda parece dormir. Pelo menos, a essa hora, diferentemente de megacidades como São Paulo, Beijing, Tóquio ou Nova Iorque, as ruas estão vazias e nosso trajeto para o aeroporto é fácil, rápido e tranquilo. Lá vamos nós a voar pelos céus da Turquia rumo ao interior deste país instigante. Surpresas nos aguardam.

No terminal doméstico do aeroporto Atatürk, temos que passar pela fiscalização logo na entrada do prédio. Já há um monte de gente chegando para os voos executivos de início da manhã. Seguimos para o balcão da Atlasjet, a segunda maior empresa aérea da Turquia. Pegamos nossos cartões de embarque e lá seguimos pela imensa fila a caminho de mais inspeção para, finalmente, embarcarmos no Airbus 320 vermelho rumo a Izmir (Smyrna em grego, Esmirna em português), na Anatólia, na costa mediterrânea turca e um dos pontos turísticos mais badalados do país. Izmir é a terceira cidade da Turquia, com uma população de aproximadamente 3 milhões de habitantes, mais ou menos a mesma da nossa São Salvador, com a singela diferença de que a história de sua fundação data de uns 3 mil e quinhentos anos. Está localizada no Golfo de Izmir, bem próximo do mar Egeu.

Um voo tranquilo por céus lindamente azuis e, em uma hora, já estávamos em terra novamente. Do lado de fora, nossa simpática guia nos saudava em espanhol fluente, nos convidando a embarcar na van rumo a Selçuk, cidade atual onde estão as ruínas de Éfeso. Nosso trajeto duraria mais ou menos uma hora e meia por estradas de excelente qualidade e com um visual fantástico de montanhas que, ao longo do caminho, revelavam pequenas fazendas, fileiras de oliveiras a perder de vista, além daquelas vaquinhas bem alimentadas, pastando com toda a tranquilidade, bem despreocupadas, deixando a vida passar lentamente. Depois de adentrarmos por algumas cidadezinhas e lugarejos, chegamos a Selçuk e seguimos para a nossa primeira parada no alto das montanhas, pertinho de Éfeso. O lugar maravilhoso que nos esperava era simplesmente a casa da Virgem Maria, ou seja, o lugar onde a mãe do Cristo teria vivido os últimos anos de sua vida.

A casa da Virgem Maria, próximo a Éfeso-Turquia

Chegamos ao lar da Virgem Maria (Meryem Anay’a Ovgu Duasi, em turco). Um lugar simplesmente místico, surpreendente, inigualável. Ainda é maio, mas pela quantidade de gente que segue conosco para a capela, vê-se que este deve ser um local de grande fluxo turístico. A casa foi descoberta ainda no século XIX e, mesmo diante das dúvidas que permanecem até hoje no tocante à sua autenticidade, tornou-se, curiosamente, um santuário tanto católico romano quanto muçulmano. A crença de que Maria viveu nesse local, bem próximo a Éfeso, ganhou reforço no mundo cristão com as visitas dos papas Paulo VI, em 1967, e João Paulo II, em 1979. Bento XVI também já esteve lá. Missas são celebradas todos os domingos. A casa foi restaurada e as redondezas foram dotadas de toda a infraestrutura para que as grandes quantidades de visitantes sejam bem atendidas. Não podemos fotografar o interior da capela, mas dá para sentir uma energia absolutamente de outro mundo ao nos deslocarmos pela simples construção de pedra e pelos lindos jardins, e mais adiante, bem ao lado das fontes canalizadas (são três, a da saúde, a do amor e a da fortuna – temos que beber em todas, reza a tradição) e do muro de pedra onde as pessoas colocam seus pedidos. Hoje é dia 22, aniversário de 18 anos de meu filho Gabriel. Embora distante dele, me sinto privilegiado por ter estado nesse lugar e poder pedir por sua saúde e que Deus faça dele um ser humano sempre decente. Momentos inesquecíveis. Salve a Virgem Maria!

Descemos as montanhas, tiramos muitas fotografias ao lado das esculturas de Maria e, finalmente, começamos nossa caminhada pelas ruínas de Éfeso. O sol a pino nos castigava, mas ao pisar naquelas ruas de pedra e no mosaico das antigas calçadas, me senti como se transportado para um passado rico e extremamente revelador para quem gosta de história como eu. Para os padrões da antiguidade, Éfeso era uma senhora metrópole. Seu Odeon cabia em torno de 30 mil pessoas, ou seja, dez por cento da população local (escritos dão conta de até 500 mil habitantes, não se sabe). Só Roma a ultrapassava. Éfeso é hoje um dos sítios arqueológicos mais visitados do planeta, pois muito do que havia por lá ainda pode ser visto in loco ou no belo museu da cidade. Umas das doze cidades da chamada Liga Jônia (as outras eram Mileto, Mios, Priene, Cólofon, Lêbedo, Teos, Clazômenas, Foceia, a ilha de Quios, Eritras e a ilha de Samos – tratava-se de uma confederação formada logo depois da Guerra Meliana, em meados do século VII a.C.) durante o período clássico grego, lá ficava o célebre Templo de Artêmis, uma das sete maravilhas do mundo antigo, construído por volta de 550 a.C. O interessante é que Éfeso sofreu alguns eventos que destruíram não só o Templo de Artêmis como muitos edifícios importantes, principalmente durante um grande terremoto em 614 a.C. Mas foi reconstruída, uma delas por Constantino I. Quem por aqui passa, no tocante ao templo, nota que restam apenas uma solitária coluna e escassos destroços do que um dia foi o maior templo do mundo antigo. Pois é, a sombra está lá e dá uma sensação estranha chegar perto do local. Um privilégio sem par.

Apesar do que se perdeu e do que foi subtraído nas escavações, ainda temos muito o que ver em Éfeso. Contando com a experiência de mais de vinte anos da nossa guia, seguimos tendo aulas incríveis de História por entre locais inimagináveis para um ser nascido no Novo Mundo, descoberto, em tese, apenas em 1492. Começamos pelo Estádio, a Avenida do Estádio, a Avenida do Porto, o Ginásio, o Grande Teatro, as Ágoras, o Templo de Adriano, a belíssima Biblioteca de Celso (Celsus Library) que, por incrível que pareça, ainda mantém seu imenso portal em excelentes condições. O fantástico edifício foi erguido em honra ao senador Tibério Júlio Celso Polemeno, por seu filho, Caio Júlio Áquila, em 135 d.C. Embora não fosse comum, o local serviu também como mausoléu para Celso, que, rico e muito popular, fora governador de Éfeso pelos idos de 115 d.C. O interessante é sabermos que a linda biblioteca foi paga com recursos próprios pelo filho do senador. Lá foram encontrados algo em torno de 12 mil papiros. Uma joia para a humanidade. Éfeso é, ainda bem, um patrimônio cultural mundial. 

A Biblioteca de Celso-Éfeso (Foto: Sávio Siqueira)

Passamos pelos banhos públicos erigidos por Constantino I e suas partes integrantes, as latrinas e os bordéis, além de inúmeras estátuas e belíssimos monumentos a vários deuses e deusas, incluindo uma para a deusa Nika, famosa mundialmente hoje em dia pela marca esportiva Nike. Muitas fontes também chamam a atenção, incluindo a belíssima fonte de Trajano. Interessantes também são as ruínas dos banhos de Escolástica, construídos por uma rica senhora com este nome e que, como grande empreendedora, criou um complexo fantástico, um verdadeiro spa com capacidade para mais de mil pessoas. A topografia de Éfeso ajudava a separar socialmente os moradores. Ainda estão lá as belíssimas calçadas feitas de mosaicos coloridos por onde os nobres circulavam. Ao final do trajeto, o imponente Odeon, o imenso estádio construído por volta de 150 d.C., e usado como área para concertos, além de servir de local de encontro da nobreza e dos visitantes ilustres. Passear por um lugar como Éfeso nos leva a concluir que ainda temos muito a aprender vida afora. Em se tratando de Turquia, não há como não visitar esse lugar. 

Em resumo, muito pouco pude falar aqui sobre esse nosso dia longe de Constantinopla. Um dia e tanto. Após a saída da cidade de Éfeso, ainda desfrutamos de um maravilhoso almoço num restaurante familiar mantido por tapeceiros locais que gerenciam uma fábrica-escola de belíssimos e, claro, caríssimos, tapetes de toda a região. Vimos como são feitos tapetes e como um único casulo do bicho-da-seda é capaz de produzir incríveis 800 metros de fio. Tomei um susto. Fomos também a uma fábrica de couro, onde tivemos o privilégio de sermos brindados com drinques locais (o raki) e um desfile de moda, no mínimo, inusitado. Depois disso, uma parada no excelente Museu de Éfeso para desfrutar com calma dos belos artigos de pura arte que não ficaram no seu local de origem, o sítio arqueológico de Éfeso.

Hora de partir. Que pena. De volta a Izmir. Um retorno tranquilo nas asas da mesma Atlasjet. Como em vários dias, Istambul nos brindou com um lindo pôr do sol enquanto aterrissávamos de volta aos seus domínios. Suas muralhas antiquíssimas estavam lá, bem visíveis do alto, suas águas, mantendo-a sempre bela. Estamos de volta de uma inesquecível aventura. São quase onze da noite. Precisamos comer algo. O sanduíche de queijo do avião (pelo menos não era barrinha de cereal) não deu conta. Estamos vivendo a Turquia intensamente. Não há tempo nem para descansar. Mas isso fica para a volta. Hoje, após Éfeso, me sinto uma pessoa diferente. Quase com asas. Um tímido deus, quem sabe. Um nobre do conhecimento. Um ser que, cada vez mais, entende que sabe muito pouco ou quase nada do mundo. Que mundo, meu Deus! Que mundo! Fico por aqui e volto logo. Istambul não dorme, o neon ainda está lá, os vendedores de kebap ainda gritam. A vida segue. É hora de relaxar. Penso no meu João. O dia dele, para ele, ainda não acabou. Penso nele e o entrego a Deus. Estou distante, mas o sinto bem perto. É hora de relaxar. O neon ainda está lá. É hora de relaxar. Como posso com tanta cultura na cabeça? O neon ainda está lá. Hora de descansar.

Sávio Siqueira
Istambul/Constantinopla, 22 de maio de 2012

sábado, 4 de maio de 2013

UMA VEZ VISTO O NORTE

Rio Branco, Acre (2013)

Madrugada amena no Acre. O pequeno aeroporto me traz à cabeça o aeroporto de Ilhéus, só que o mar que se vê aqui é verde, cortado por luzes de cidades e estradas que mais parecem rasgos em um tecido que resiste ser desbravado. Descubro logo pelas colegas que me recepcionam tão amigavelmente no terminal de chegada que estamos no município de Bujari, a uns dez quilômetros de Rio Branco. O calor da noite é abafado e não nos oferece aquela brisa típica do litoral. Estou uma hora a menos em relação a Brasília, saindo do Aeroporto Plácido de Castro, ao que me parece, uma figura ilustre nessas terras de cá, nesta imensa zona de floresta (ou o que sobrou dela), não tão longe do Pacífico e muito próximo do que nos acostumamos a chamar de América Latina hispânica, neste Acre que pulsa entre as linhas fronteiriças do Brasil, Peru e Bolívia, bem dentro do coração amazônico.

O dia amanhece e sigo para as atividades que aqui me trouxeram. Começo a perceber a rotina da cidade. Trânsito complicado em alguns lugares, muitas motos, poucos prédios, nomes de ruas peculiares. Ao que vejo e depois confirmo, Rio Branco tem uma relação íntima com o Ceará. Uma das suas mais longas avenidas carrega exatamente o nome do nosso estado nordestino. Razão justa, eu diria. Foi um cearense de nome estranho, meio anglicizado, Newtel Maia, quem, nos idos de 1904, fundou Rio Branco com o singelo nome de Seringal Empresa, exatamente num 13 de junho, dia de Santo Antônio. Poderia ter se chamado Santo Antônio do Acre. Dividida pelo rio Acre, a cidade se estende por dois distritos, sendo que o mais velho, o Segundo Distrito, na minha visão absolutamente superficial, parece mais pobre e com sinais mais visíveis de uma certa degradação, apesar das louváveis intervenções de restauração patrimonial. 

O trabalho na Universidade Federal do Acre (UFAC) me põe em contato com colegas professores e alunos de Letras nos mais diversos momentos dos cursos, sendo que alguns discentes bem próximos de se formar e outros bem jovens, recém-entrados no mundo acadêmico superior. Conversamos de tudo, passeamos pelo campus, fui tratado como um ilustre visitante que, na realidade, não sou. Num dos intervalos, tive a oportunidade de caminhar pelo famoso e polêmico Parque da Maternidade, um canal de saneamento que singra por vários bairros da cidade e que, pelo que me foi dito, gerou muita confusão por conta de roubalheira durante a construção. Sei não, nesse pormenor, tais particularidades apenas mudam de endereço. Mas ele está lá como uma boa opção de lazer para a população, contando com pista de caminhada, a famosa Casa do Artesão do Acre e o maravilhoso artesanato feito a partir de tudo que a floresta proporciona, além de um simpático anfiteatro para shows ao ar livre e um restaurante charmoso, O Paço, com som ao vivo e boa comida. Para quem é de Rio Branco, não esquecer que no Dia das Mães está anunciado um show só com músicas de Roberto Carlos, prometendo arrasar com os corações das nossas coroas maravilhosas que sobreviveram à choradeira pós-segunda viuvez do setentão de Cachoeiro do Itapemirim. Segundo o panfleto, “uma noite para sonhar”. Sonha, mamãe!

Tive tempo ainda de ver alguns pontos turísticos, mas, infelizmente, com a pressa daqueles que decidem que é preciso voltar com mais calma. Poucos dias, mas o suficiente para registrar coisas e nomes interessantes. Por exemplo, na margem direita do rio, onde fica o famoso Calçadão da Gameleira, considerado o centro histórico da cidade, foram erguidos uns boxes charmosos onde vende-se o famoso tacacá (iguaria da região amazônica brasileira, em particular do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Amapá, preparada no tucupi), algo que me lembrou Maceió com suas indefectíveis barracas de tapioca. Deu para apreciar também a Catedral Nossa Senhora de Nazaré, com seu imenso campanário, o Palácio Rio Branco, hoje quase um feudo do PT, com suas três belas colunas clássicas, a Praça Povos da Floresta, o prédio da Assembleia Legislativa com a escultura de bronze de Luiz Galvez, o espanhol desbravador do Acre e seu governador por duas vezes, bem na frente, a Biblioteca Municipal, a linda Biblioteca da Floresta, a entrada do Parque Tucumã. Na memória, guardei de tudo um pouco.

Catedral Nossa Senhora de Nazaré (Foto: Sávio Siqueira)

Mas do que experimentei nessa rápida ida a Rio Branco, nada se compara à ida ao Novo Mercado Velho, o mercado municipal da cidade, também restaurado, e que faz parte do conjunto arquitetônico da cidade que estava completamente abandonado, servindo de zona de prostituição e tráfico de drogas. Bem defronte à margem esquerda do barrento rio, lá está ele, o novo velho prédio de belos portões arredondados, construído em 1920, adornado charmosamente de amarelo, verde e branco, as matizes da bandeira acreana, abrigando lojas de ervas naturais, de produtos religiosos, de artesanato, além de bares e restaurantes que se estendem por toda a rua num colorido bem interessante de se ver. Um ligar cheio de vida!

Sentamos bem em frente à modernosa passarela para pedestres e ciclistas Joaquim Macedo, construída entre as duas pontes que conectam os dois distritos. Com o rio Acre em um nível bem baixo dava para ver a enorme quantidade de degraus que foram construídos para segurar as águas durante as cheias. Onde ficamos, ao som de um violonista e um saxofonista que nos cobraram apenas R$ 3,00 de couvert artístico, jogamos muita conversa fora, fomos perturbados por uma mulher bêbada que não deixava ninguém em paz e ainda tivemos o privilégio de apreciar um bando de loucos fazendo bungee jump do alto da passarela. Certamente, não tão bobos, pois se a corda quebra, eles caem bem no meio das águas barrentas do rio Acre e, claro, sabendo nadar, não morrem, divertem-se.

E ali entre várias Itaipavas, música no ar e uns tira-gostos bem globalizados (mini-quibe, macaxeira frita com molho tártaro e até pizza brotinho em pedaços), começamos a contar e ouvir histórias. Eu, mais como ouvinte, tentando entender a ciência por trás do Santo Daime, as aventuras dos meus colegas por terras peruanas e bolivianas, a conversa do veneno de um sapo que cura doenças e revitaliza o corpo. Descobri, por exemplo, como é preciso compreender a situação de tensão da fronteira, como os bolivianos de Cobija veem os brasileiros, como é importante tomar o chá da coca antes de se aventurar pelas altitudes de La Paz e outras cidades da região. Tudo sabedoria adquirida através de pura experiência. Melhor não há. Ali estava eu, o aprendiz.

Ouvi muita piada, falamos de tantas coisas diferentes e em comum. Juntamos a cultura do Axé com a cultura da Floresta, e isso deu numa mistura que, certamente, perdurará na memória. Como não poderia deixar de ser, entramos pelos caminhos da linguagem e das línguas e foi aí que a coisa se espalhou. A música era boa, mas deu a hora do duo encerrar o expediente. Nós vimos que, mesmo sendo véspera de feriado, Rio Branco, como toda cidade que dorme, já estava bem sonolenta. Era chegada a hora de fechar a conversa, o papo dos novos amigos e guardar assuntos e curiosidades para o próximo encontro, desde já ali prometido.

O Novo Mercado Velho de Rio Branco (AC) (Foto: Sávio Siqueira)

Enfim, após uma bela farra de encontros, concluímos a nossa agenda passeando e, às vezes, furando sinais vermelhos das muitas ruas que me levavam não sei para onde. Só fazia lembrar das coisas que conversamos e sorrir, gargalhar, sorrir. Volto para casa e continuo a rir efusivamente em pleno voo a caminho de Brasília. Ninguém entende. Só eu. Só eu, em toda Bahia, saberei o que aconteceu com Agnaldo Timóteo num show em Manaus, quando ele supostamente, invadiu o território de uma certa celebridade. Só seu saberei o que é um “cafuçu” e a que serventia ele se presta. Só eu vou saber da má vontade com o Hotel Majú por conta do seu redundante acento agudo no “u”. Só eu. Este é o Acre que, aos poucos, vai ficando para trás. Dele vou me distanciando fisicamente, mas na memória, as lembranças se formam e me convidam a retornar. Uma vez visto o Norte, a gente quer voltar. Eu volto. Podem apostar! Uma vez visto o Norte, já se me guiar.  

Sávio Siqueira
Rio Branco-Brasília, 01 de maio de 2013


O QUE SÃO LÍRICAS DE VIAGEM?

Líricas de viagem são relatos de meus encontros com o mundo. Mundo tão vasto que tanto tem me ensinado e mudado meu jeito de enxergar as coisas da vida. Transformo em líricas passagens que me chamam a atenção e que, muitas vezes, me ensinam o bom viver. São sentimentos estritamente pessoais que, em momento algum, prestam-se ao papel de transferir para o leitor algo que venha mudar suas ideias ou interferir nos seus pensamentos ou modos de ver e viver a vida. São percepções, olhares bem sutis e particulares de alguém que busca encontrar algo de interessante por onde quer que ande. Um bate papo despretensioso, sem camuflagens nem desejos de erudição. Nada de guia turístico, muito menos descrições assépticas de pessoas e lugares. São apenas narrativas que buscam cravar nas mentes e nos corações de quem as lê aquela boa e velha sensação de que é preciso viver, caminhar, voar, seguir sempre, ir, voltar, pois, são essas pequenas coisas que levamos da vida. O resto... vai ficando por aí. E de lírica em lírica, viajando, sigo enchendo a vida de cor, saboreando com imensa simplicidade a doce dádiva de estar vivo. Viajem comigo.


Beijing (2011)